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04 abril, 2011

Montagem brasileira de "Evita" é madura, hipnótica e veloz.

O diretor JORGE TAKLA tem no currículo musicais competentes como "West Side Story", "My Fair Lady" e "O Rei e Eu". Na condução da montagem brasileira da ópera-rock "EVITA", uma das partituras mais famosas de Andrew Lloyd Webber, o minucioso Takla acerta a mão em um espetáculo de difícil execução, canções complexas e que exigem versatilidades vocais e uma escolha de elenco que não poderia ter erros.
PAULA CAPOVILLA, que tem no extenso background papéis como a Sra. Potts em "A Bela e a Fera" e Madame Giry em "O Fantasma da Ópera", tem aqui sua grande chance como protagonista, comprovando toda a sua capacidade no canto e a densidade emocional que a personagem necessita. DANIEL BOAVENTURA, que foi Billy Flynn em "Chicago" e Henry Higgins em "My Fair Lady", tem potencialidade vocal formidável, mas fica difícil enxergá-lo dramaticamente como o coronel Juan Perón.  
FRED SILVEIRA, que foi Jesus em "Godspell" e Trek Monstro em "Avenida Q", aqui como Che Guevara, alcança um belo momento de sua carreira, sarcasticamente narrando o espetáculo do começo ao fim. Inteiramente cantado (sem nenhum diálogo e sem espaços para aplausos), "Evita" é um tour-de-force para o vibrante elenco. Além da partitura musical sem interrupções, há trocas de figurinos vertiginosas, em velocidade alucinante. Aliás, esse foi outro ponto em que Takla acertou desta vez: o ritmo. Em seu espetáculo anterior, "O Rei e Eu", existiam várias "barrigas" e quebras desnecessárias na narrativa.
Em uma das canções Evita diz que "a vida foi veloz" e assim o é este esplêndido musical, que tem cenários sofisticadamente limpos e brancos. Jorge Takla, que também é responsável pela cenografia, foge do lugar-comum e opta por linhas elegantes e monocromáticas, deixando brilhar os 350 fulgurantes figurinos do extraordinário FABIO NAMATAME. As cafonices e excessos que existiram nos cenários de "O Rei e Eu" deram aqui lugar à sofisticação minimalista e uma escadaria que por vezes chega a lembrar o ateliê de "Mademoiselle Chanel". "O Rei e Eu" envelheceu. "Evita" não. Permanece atual, poderoso na sua sua ousadia ao desvendar os jogos políticos e as alianças por interesses.
Takla também comete uma ousadia com as projeções, a cargo de Luciana Ferraz, Juliano Seganti e Otávio Juliano. Em algumas cenas, enquanto a ação ocorre, vemos imagens gigantes em uma espécie de tríptico visual, repleto de fotos e videos reais, o que possibilita um atmosfera documental. Eu nunca tinha visto projeções funcionarem tão bem em um musical.  Takla acertou em cheio, numa direção madura, majestosa e audaz.
As coreografias estonteantes e hipnóticas ficaram a cargo de Tânia Nardini. Há apenas um momento de um tango entre Evita e o coronel Perón que poderia ter sido mais ensaiado. Eles parecem desajeitados e desacelerados, mas o espetáculo acabou de estrear e com o passar das semanas devem ajustar-se nesta cena específica, que não compromete em nada a magnitude do projeto.  As letras de Tim Rice foram traduzidas para o português pelo mago CLÁUDIO BOTELHO, que mais uma vez, nos brinda com versões emocionantes. "High Flying, Adored", por exemplo,  foi espertamente traduzida para "A estrela subiu". 
"Evita" fez a estrela Paula Capovilla realmente subir.
No elenco coadjuvante destacam-se Bianca Tadini, Roberto Rocha e Pedro Ometto (alternante de Perón).
 Minha próxima ida será para comprovar o trabalho da alternante Alessandra Verney, no lugar de Capovilla.
"Evita" estreou em 1978 em Londres, com Elaine Paige. No ano seguinte, chegou à Broadway, com Patti LuPone. Em 2007 teve seu último revival no West End. Há 15 anos, Alan Parker dirigiu a adaptação cinematográfica, com Madonna no papel-título e Antonio Banderas como Che. Arrisco dizer que "Evita" talvez seja o musical mais arrebatador de Jorge Takla. O diretor não faz julgamentos políticos. Apenas deixa vir à tona toda a beleza daquele amor épico e a figura de conto-de-fadas que essa mulher representou para o povo.
Próximo ano, tudo indica que haverá um novo revival em Londres, com Elena Roger (mesma atriz da montagem de 2006-2007) e Ricky Martin, no papel de Che Guevara.