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03 novembro, 2010

"HAIR" - O canto vigoroso e as emoções libertárias lavam o público

No final dos anos 60, o musical de Gerome Ragni, James Rado e Galt MacDermot assombrava Nova York com sua quentíssima mensagem de amor, paz e não-à-guerra. 43 anos depois, os direitos autorais caem nas mãos das pessoas certas. Charles Moeller e Claudio Botelho recriam o musical "HAIR" com uma competência e uma qualidade arrebatadoras. A comunicação que eles estabelecem com a plateia desde os primeiros segundos é palpável e verdadeira. O revival da americana Diane Paulus que ficou em cartaz em 2009 e no início deste ano na Broadway e no West End (e ganhou o Tony Award) fica pequenino perto do estonteante trabalho de direção de Moeller.
Ao optar pela ambientação de uma fábrica ou galpão abandonado, é criado uma espécie de confinamento dos sonhos engasgados. Corações e mentes libertárias que urgem em desespero para sair dali em busca da mistura com o resto do mundo, num canto lindíssimo de vários NÃOS aos governantes que continuam invadindo países e matando, às famílias que ainda mandam seus filhos à guerra, ao preconceito com pessoas do mesmo sexo querendo paz e união, às mulheres que ainda são apedrejadas no Oriente. Um grande NÃO às possibilidades amedrontantes de ditaduras e à morte da liberdade de imprensa.
As soluções cênicas são deslumbrantes. O cenário de Rogério Falcão "deixa o sol entrar" circularmente por redondas frestas em pé-direito alto, através de hélices giratórias. As cores são vivas, púrpuras, energéticas. Os figurinos não são somente jeans rasgados, como em Nova York. Tudo aqui é mais elaborado, mais pesquisado, mais grandioso. Marcelo Pies fez uma peregrinação por brechós, uma espécie de viagem ao túnel do tempo para recriar a indumentária daquela tribo de hippies que gritavam o amor e a liberdade.

A vibração, a garra e a vontade de estar ali do elenco são contagiantes.
IGOR RIKLI está fulgurante como o líder Berger. Uma atuação diabólica que arranca os olhos da plateia para dentro dos dramas ali mostrados.
HUGO BONEMER está comovente como Claude, um rapaz empurrado para a guerra. É bonito demais ver a emoção transbordar pelos poros e olhos quando ele canta, já no final, "The Flesh Failures"
LETÍCIA COLIN é uma presença luminosa, mas para quem a viu em "O Despertar da Primavera" há de perceber que ela se repete. O registro de voz e falas em meio aos sorrisos aqui como Jeanie chegam a ser quase idênticos ao de sua Ilse.
 DANILO TIMM, que teve um papel pequeno em "Despertar", aqui tem a grande chance de mostrar seu talento musical na pele da divertida Margaret Mead, a hipócrita mulher que quer fotografar a tribo de hippies como se fossem bichos. Quando ele canta  "My Conviction" a plateia o aplaude em cena aberta, tamanha é a técnica vocal do rapaz.
A direção de Charles Moeller, além de todo o rigor e a maravilha de arrancar desempenhos frenéticos dos 30 atores em cena, tem um momento bonito de rima com o espetáculo anterior, "O Despertar da Primavera". Quando o pai dá um tapa no rosto de Claude, parte do elenco que está pendurada nos andaimes e escadarias de ferro reage, como num susto, exatamente como reagiram à agressão da mãe no rosto da menina Wendla.

"A paz há de lavar o mundo, o amor vai derramar", diz a versão de "Aquarius", que abre o musical "HAIR", que estreia sexta-feira, 5 de Novembro, no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro. As emoções transmitidas pela magnífica montagem brasileira realmente lavam o público e derramam-se sobre as poltronas do teatro. A missão de paz dos diretores Charles Moeller e Claudio Botelho tem  alvo certeiro nos corações dos espectadores de qualquer idade. 

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