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14 fevereiro, 2012

Minhas apostas - OSCAR 2012

Filme:  "O ARTISTA"  - os grandes filmes do ano foram: o penetrante "DRIVE", de Nicolas Winding Refn,  e o arrebatador "Hugo Cabret", de Scorsese, mas esta bela homenagem francesa ao cinema mudo também merece a honra.

DiretorMICHEL HAZANAVICIUS ("O Artista") - mas o melhor diretor foi Martin Scorsese, em "Hugo Cabret".

AtorJEAN DUJARDIN ("O Artista")  - não concordo em premiar um ator que não tenha uma carreira de grandes filmes. Receber o Oscar deveria ser uma honra pelo background, por uma vida de ótimas atuações,  não apenas a interpretação pela qual concorre. Que carreira tem Dujardin? Ele está bem no filme (embora seja careteiro), aprendeu a sapatear, mas o melhor ator do ano sem sombra de dúvida foi incomparável Ryan Gosling, soberbo em 2 filmes: "Drive" e "Tudo pelo Poder" (ele sim, tem uma carreira de grandes interpretações e mereceria muito mais a estatueta).



Atriz:  MERYL STREEP ("A Dama de Ferro") - 17 vezes indicada ao Oscar. A maior atriz viva do cinema mundial. Não há papel que ela não consiga interpretar. Não há sotaque que ela não consiga imitar. Sim, ela já ganhou 2 Oscars, mas ela merece seu terceiro. Viola Davis é uma atriz iluminada, mas a carreira dela é muito pequena perto da magnífica Meryl. Se ela perder, será injustiça parecida com a perda da Judy Garland para Grace Kelly em 1954.


Ator Coadjuvante:  CHRISTOPHER PLUMMER ("Toda Forma de Amor" - Beginners)  - venho falando deste filme e da performance dele há muitos meses. Chegou a hora deste ótimo ator de 82 vencer a estatueta. Ele também está notável em "Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres" e tem no currículo uma carreira de boas interpretações em filmes como "O Informante", "A Última Estação" e "A Noviça Rebelde". Merece.

Atriz Coadjuvante:  OCTAVIA SPENCER ("Histórias Cruzadas") - que carreira ela tem? Nenhuma. Como Dujardin, faz mil caretas, caras e bocas. Acharam que é uma boa atuação. Vai entender. Jessica Chastain mereceria muito mais, pelo mesmo filme (e por outras 2 atuações esse ano em "Árvore da Vida" e "O Abrigo"). Na verdade a melhor atriz coadjuvante do ano foi a inglesa Carey Mulligan em "Drive" e "Shame", mas sequer foi indicada. Incongruências do Oscar.

Roteiro Original: "O ARTISTA" -  "Meia Noite em Paris" talvez fosse mais merecedor, mas o prêmio vai para o filme francês, que realmente conseguiu contar em imagens uma boa história à moda antiga, sem efeitos, sem tecnologia, sem a chatice do 3D, sem falas. E ainda assim um filme instigante e encantador.

Roteiro Adaptado:  "OS DESCENDENTES"  - Terno, sutil e comovente, repleto de cenas primorosas, diálogos espertos e perspicazes. Merece muito. Mas eu ficaria enormemente feliz se premiassem o fabuloso roteiro de "A Invenção de Hugo Cabret".

Fotografia:  "A ÁRVORE DA VIDA"  -  câmera e luz inacreditavelmente bonitos, etéreos, orgânicos com a narrativa do belo filme. O mexicano Emmanuel Lubezki já tem 5 indicações ao Oscar no currículo, incluindo trabalhos magistrais como em "O Novo Mundo" (The New World) e "Filhos da Esperança" (Children of Men). Chegou a hora dele ganhar.

Animação:  "RANGO"  -  "Rio" não concorrer é uma grande falha dos votantes, mas "Rango" merece por ser uma animação magnífica.


Filme Estrangeiro:  "A SEPARAÇÃO"  (Irã) - Será o primeiro Oscar do país. Incrivelmente merecido. Um filmaço sobre .

Edição:  "O ARTISTA"- editado pelo próprio diretor, junto com a francesa Anne-Sophie Bion, de "Micmacs - Um Plano Complicado", de Jean-Pierre Jeunet.

Direção de Arte:  "A INVENÇÃO DE HUGO CABRET"  - a dulpa italiana Dante Ferretti e Francesca LoSchiavo já concorreu 9 vezes e ganhou 2 ("O Aviador" e "Sweeney Todd") e desta vez, o trabalho da dupla é soberbo em "Hugo Cabret".

Figurino:  "O ARTISTA"  - o costume designer americano Mark Bridges tem no currículo a série "A Sete Palmos", além de filmes como "Magnólia", "Sangue Negro" e "Boogie Nights".

Trilha Sonora:  "O ARTISTA" - a música do francês Ludovic Bource é uma das almas do filme.

Mixagem de Som:  "CAVALO DE GUERRA" - tecnicamente esplêndido, o edulcorado filme de Spielberg deve receber apenas essa estatueta.


Edicão de Som:  "A INVENÇÃO DE HUGO CABRET" 

Efeitos Visuais:  "O PLANETA DOS MACACOS"  - o realismo da captura de performance dos símios e a interpretação magnífica de Andy Serkis darão esse prêmio ao ótimo e merecedor filme.


Canção:  "RIO" - num ano em que a Academia eliminou e desconsiderou todas as boas canções da lista prévia, acabou "sobrando" para a incrível animação de Carlos Saldanha. Merece? O filme sim, mas a canção é carnavalesca demais.

Maquiagem:  "A DAMA DE FERRO"


Curta-documentário:  "THE TSUNAMI AND THE CHERRY BLOSSOM"  - de Lucy Walker, uma das diretoras de "Lixo Extraordinário",  que perdeu ano passado. Talvez a Academia queira compensá-la este ano.


 Curta de Animação:  "LA LUNA" - produção da Pixar, será exibido junto com o próximo filme do estúdio, "Valente" (Brave), que será lançado em Junho. A direção de "La Luna" é de Enrico Casarosa, que estréia como diretor depois de contribuir com os storyboards de "Up - Altas Aventuras" e "Ratatouille".

Curta-metragem:  "RAJU" - co-produção da Alemanha com a Índia, fala sobre um casal germânico que adota um garoto órfão indiano chamado Raju, em Calcutá. O menino desaparece, para desespero dos pais adotivos.

Documentário:  "PINA"  - o famigerado diretor alemão Wim Wenders nunca ganhou um Oscar, apenas foi indicado em 1999 por "Buena Vista Social Club". Sua carreira inclui filmes gloriosos como "Paris, Texas" e "Asas do Desejo". "Pina" é um documentário em 3D sobre a vida da dançarina e coreógrafa alemã Pina Bausch, falecida há 2 anos.







02 fevereiro, 2012

Filmes da temporada - parte 1

"J. EDGAR" (***) - Apesar da maquiagem do envelhecimento dos personagens ser incômoda nos primeiros minutos, o filme do mestre Clint Eastwood tem muitas virtudes. Um roteiro sólido, com um belo arco dramático que percorre a psicologia de um homem às voltas com sua homossexualidade auto-repressora. Di Caprio tem desempenho marcante. O extraordinário ARMIE HAMMER, 25 anos, soube construir com segurança,  luminosidade e muitas nuances o Clyde Tolson (e em diversas idades), companheiro de Hoover. Um relacionamento de uma vida toda, casto e longevo, entre dois homens, bonito de se ver,  comovente em inúmeras cenas.
"MILLENIUM - OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES" (***) - uma Estocolmo tétrica, acinzentada, uma fotografia escura em excesso (e por isso mesmo, competente), um tour ao universo cruel e gelado dos personagens do livro de Stig Larsson. Por vezes me fez lembrar da ferocidade de "Seven - Os 7 Crimes Capitais", do mesmo David Fincher. Outras vezes me remeteu a "O Silêncio dos Inocentes". Um filme difícil, mas quem conseguir penetrar neste universo mórbido vai ter gratas surpresas no terço final. A destemida ROONEY MARA, 26 anos (parecida com Jennifer Connelly), é uma revelação, com ótimos e intrépidos momentos dramáticos. STELLAN SKARSGARD rouba a cena quando aparece. CHRISTOPHER PLUMMER está excelente como o patriarca. A trilha sonora de Trent Reznor & Atticus Ross (vencedores do Oscar pela música de "A Rede Social") tem acordes atualíssimos e orgânicos com a narrativa.  Uma viagem de difícil digestão, para poucos estômagos, mas contada com a qualidade da mise-en-scène do diretor.
 "PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN" (****) - Notável estudo da relação insalubre entre mãe e filho. Uma mãe não necessariamente devota e um filho disformemente atroz e cruel. Pouquíssimos diálogos, um roteiro brilhante e aflitivo que conta em imagens o que poderia ser verborrágico e chato. Uma direção lancinante de Lynne Ramsay. Difícil desgrudar os olhos da tela. Fazia tempo que não sentia medo e frio na espinha. EZRA MILLER, de 18 anos, está diabólico: uma interpretação contundente. Arrisco dizer que ele será um dos grandes astros de Hollywood pelo talento. 
 "OS DESCENDENTES" (***) - o diretor Alexander Payne é um exímio diretor de atores e tem no currículo filmes afetuosos e apaixonantes como "As Confissões de Schmidt" e "Sideways". Aqui ele volta o olhar para relações familiares. Um pai antes desatento tenta reaproximar-se das filhas, enquanto descobre que a esposa, que está prestes a morrer, o traiu. Pode parecer piegas mas Payne tem uma mão pouco açucarada. A glicose dá lugar a momentos espirituosos e sensíveis. George Clooney está enternecedor como um pai e marido quebradiço e fragilizado. O oposto dos homens possantes que comumente interpreta no cinema. A fotografia  inteligentemente evita vender o Havaí com paisagens esplendorosas, mas dá vontade de planejar as próximas férias para a ilha do Pacífico. As vistas aqui são internas. E calmas.  Arrebatadora a performance da estreante SHAILENE WOODLEY, de 20 anos. A atriz vive a filha mais velha com uma convicção e uma firmeza que dão gosto de ver. Será uma grande atriz em pouco tempo. Um pequeno e brando drama, que merece ser visto por quem sabe o que significa cinema de qualidade. 
"O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS" (***) - Compassado e vagaroso, mas salpicado com alguns momentos vibrantes, essa adaptação do livro de John Le Carré ("O Jardineiro Fiel") é repleta de segredos e reviravoltas. Cansativo em determinados percursos,  é um filme que requer disposição. A reconstituição de época é primorosa. Gary Oldman tem uma longa carreira de trabalhos excelentes e merece esta primeira indicação ao Oscar. Ele constrói um investigador tácito, observador e silencioso, vindo à tona somente quando necessário. O restante do elenco é de uma altivez acima da média: John Hurt e MARK STRONG sobressaem em personagens complexos, Toby Jones é o baixinho enfezado de sempre e Colin Firth está surpresamente apagado. Quem me chamou muita atenção foi TOM HARDY, rijo e lúbrico, com uma peruca que o faz ficar quase irreconhecível. Um filme moroso, mas com intensas interpretações que valem a pena.