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02 fevereiro, 2012

Filmes da temporada - parte 1

"J. EDGAR" (***) - Apesar da maquiagem do envelhecimento dos personagens ser incômoda nos primeiros minutos, o filme do mestre Clint Eastwood tem muitas virtudes. Um roteiro sólido, com um belo arco dramático que percorre a psicologia de um homem às voltas com sua homossexualidade auto-repressora. Di Caprio tem desempenho marcante. O extraordinário ARMIE HAMMER, 25 anos, soube construir com segurança,  luminosidade e muitas nuances o Clyde Tolson (e em diversas idades), companheiro de Hoover. Um relacionamento de uma vida toda, casto e longevo, entre dois homens, bonito de se ver,  comovente em inúmeras cenas.
"MILLENIUM - OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES" (***) - uma Estocolmo tétrica, acinzentada, uma fotografia escura em excesso (e por isso mesmo, competente), um tour ao universo cruel e gelado dos personagens do livro de Stig Larsson. Por vezes me fez lembrar da ferocidade de "Seven - Os 7 Crimes Capitais", do mesmo David Fincher. Outras vezes me remeteu a "O Silêncio dos Inocentes". Um filme difícil, mas quem conseguir penetrar neste universo mórbido vai ter gratas surpresas no terço final. A destemida ROONEY MARA, 26 anos (parecida com Jennifer Connelly), é uma revelação, com ótimos e intrépidos momentos dramáticos. STELLAN SKARSGARD rouba a cena quando aparece. CHRISTOPHER PLUMMER está excelente como o patriarca. A trilha sonora de Trent Reznor & Atticus Ross (vencedores do Oscar pela música de "A Rede Social") tem acordes atualíssimos e orgânicos com a narrativa.  Uma viagem de difícil digestão, para poucos estômagos, mas contada com a qualidade da mise-en-scène do diretor.
 "PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN" (****) - Notável estudo da relação insalubre entre mãe e filho. Uma mãe não necessariamente devota e um filho disformemente atroz e cruel. Pouquíssimos diálogos, um roteiro brilhante e aflitivo que conta em imagens o que poderia ser verborrágico e chato. Uma direção lancinante de Lynne Ramsay. Difícil desgrudar os olhos da tela. Fazia tempo que não sentia medo e frio na espinha. EZRA MILLER, de 18 anos, está diabólico: uma interpretação contundente. Arrisco dizer que ele será um dos grandes astros de Hollywood pelo talento. 
 "OS DESCENDENTES" (***) - o diretor Alexander Payne é um exímio diretor de atores e tem no currículo filmes afetuosos e apaixonantes como "As Confissões de Schmidt" e "Sideways". Aqui ele volta o olhar para relações familiares. Um pai antes desatento tenta reaproximar-se das filhas, enquanto descobre que a esposa, que está prestes a morrer, o traiu. Pode parecer piegas mas Payne tem uma mão pouco açucarada. A glicose dá lugar a momentos espirituosos e sensíveis. George Clooney está enternecedor como um pai e marido quebradiço e fragilizado. O oposto dos homens possantes que comumente interpreta no cinema. A fotografia  inteligentemente evita vender o Havaí com paisagens esplendorosas, mas dá vontade de planejar as próximas férias para a ilha do Pacífico. As vistas aqui são internas. E calmas.  Arrebatadora a performance da estreante SHAILENE WOODLEY, de 20 anos. A atriz vive a filha mais velha com uma convicção e uma firmeza que dão gosto de ver. Será uma grande atriz em pouco tempo. Um pequeno e brando drama, que merece ser visto por quem sabe o que significa cinema de qualidade. 
"O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS" (***) - Compassado e vagaroso, mas salpicado com alguns momentos vibrantes, essa adaptação do livro de John Le Carré ("O Jardineiro Fiel") é repleta de segredos e reviravoltas. Cansativo em determinados percursos,  é um filme que requer disposição. A reconstituição de época é primorosa. Gary Oldman tem uma longa carreira de trabalhos excelentes e merece esta primeira indicação ao Oscar. Ele constrói um investigador tácito, observador e silencioso, vindo à tona somente quando necessário. O restante do elenco é de uma altivez acima da média: John Hurt e MARK STRONG sobressaem em personagens complexos, Toby Jones é o baixinho enfezado de sempre e Colin Firth está surpresamente apagado. Quem me chamou muita atenção foi TOM HARDY, rijo e lúbrico, com uma peruca que o faz ficar quase irreconhecível. Um filme moroso, mas com intensas interpretações que valem a pena.
 




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