Ano passado o melhor filme do ano foi indiscutivelmente "Bastardos Inglórios" (Inglorious Basterds), de Quentin Tarantino, mas a campanha em torno do politicamente engajado "Guerra ao Terror" (The Hurt Locker) fez com que ele saisse da cerimônia com o prêmio, desbancando até o poderoso blockbuster "Avatar".
Em 2007 os dois grandes filmes do ano haviam sido "O Último Rei da Escócia" (The Last King of Scotland) e "Vôo United 93" (United 93), mas o Oscar foi parar nas mãos de "Os Infiltrados" (The Departed), de Martin Scorsese, numa ação que também é típica da Academia: reparar erros do passado e premiar grandes diretores por filmes posteriores menores.


Em 1952 "Sinfonia de Paris" (An American in Paris), de Vincent Minelli venceu, mas os indicados eram os clássicos superiores "Um Bonde Chamado Desejo" (A Streetcar Named Desire) e "Um Lugar ao Sol" (A Place in the Sun).

Em 1957 o vencedor foi "A Volta ao Mundo em 80 Dias" (Around the World in 80 Days), enquanto os indicados eram os antológicos "Assim Caminha a Humanidade" (Giant), "Os 10 Mandamentos" (The Ten Commandments) e "O Rei e Eu" (The King and I).
Em 1972 o fabuloso "Laranja Mecânica" (Clockwork Orange), de Stanley Kubrick (que aliás morreu sem ter recebido um Oscar), perdeu para "Operação França" (French Connection). Qual dos dois filmes é lembrado como um clássico absoluto hoje?
Em 1980 o retumbante "Apocalipse Now" (Apocalypse Now), de Francis Ford Coppola, perdeu para "Kramer versus Kramer". Qual dos dois é tido atualmente como um grande filme?

Em 1999 "O Resgate do Soldado Ryan" (Saving Private Ryan), de Steven Spielberg, perdeu inacreditavelmente para "Shakespeare Apaixonado" (Shakespeare in Love), num dos momentos mais injustiçados e constrangedores da história da Academia.
Em 2001 "Traffic", de Steven Soderbergh, foi o filme mais elogiado pelos críticos mas o grande vencedor do Oscar foi "Gladiador" (Gladiator), de Ridley Scott, que acabou perdendo a estatueta de diretor para Soderbergh. Scott não recebeu apenas por "Gladiador", um bom filme, e sim, como recompensa por não ter sido sequer indicado em 1983 pelo clássico "Blade Runner - Caçador de Andróides" (Blade Runner) e também pelos aclamados "Alien, o Oitavo Passageiro" (Alien) e "Thelma & Louise".
Em 2003, os dois grandes filmes do ano eram "As Horas" (The Hours), de Stephen Daldry e "O Pianista" (The Pianist), de Roman Polanski, mas quem levou o Oscar foi o musical "Chicago", de Rob Marshall, hoje, quase 10 anos depois, um filme regular apenas. Marshall nunca mais fez um filme que prestasse depois.
Em 2006 o comovente e original "O Segredo de Brokeback Mountain" (Brokeback Mountain), de Ang Lee, perdeu para o mediano "Crash", em outro momento lembrado como um dos maiores erros da Academia.
Este ano quem levou foi o bonito, esquecível e mediano "O Discurso do Rei" (The King's Speech), fato que com certeza será citado por especialistas em anos posteriores. O diretor, Tom Hooper, que tem uma carreira na TV e não no cinema, tirou o Oscar das mãos dos diretores com carreiras consagradas dos dois grandes filmes do ano: "Cisne Negro" (Black Swan) e "A Rede Social" (The Social Network).

A categoria Filme Estrangeiro, então, renderá um post futuro. Em mais de 80% das vezes a Academia premia o filme errado. Vai entender.