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28 fevereiro, 2011

O inconfiável Oscar nem sempre elege o Melhor Filme e sim, o que fez a melhor campanha entre os votantes.

Fazendo um levantamento sério e meticuloso a respeito dos filmes que ganharam o prêmio da Academia nestes 83 anos, chegamos a uma constatação: em mais de 60% das ocasiões o Oscar de Melhor Filme foi equivocado. A estatueta de melhor produção do ano acabou sendo entregue a um filme cujo lobby foi mais poderoso do que suas qualidades artísticas. As campanhas para "convencer" os votantes de que determinado filme merece ser coroado como o melhor do ano são tão incisivas e milionárias que chegam a resultados constrangedores. Resultados esses que só são percebidos anos depois. Muitos filmes que ganharam a estatueta de Best Picture são esquecidos ao longo dos anos. Em contrapartida, os que não levaram (ou que nem chegaram a ser indicados) tornam-se clássicos e referências da sétima arte. A cada ano o "selo" Oscar torna-se mais obsoleto, desonesto e inconfiável. Dificilmente escolhe o melhor e mais significativo filme do ano. Escolhe o que fez a melhor campanha para vencer a categoria.
 Ano passado o melhor filme do ano foi indiscutivelmente "Bastardos Inglórios" (Inglorious Basterds), de Quentin Tarantino, mas a campanha em torno do politicamente engajado "Guerra ao Terror" (The Hurt Locker) fez com que ele saisse da cerimônia com o prêmio, desbancando até o poderoso blockbuster "Avatar".
Em 2007 os dois grandes filmes do ano haviam sido "O Último Rei da Escócia" (The Last King of Scotland) e "Vôo United 93" (United 93), mas o Oscar foi parar nas mãos de "Os Infiltrados" (The Departed), de Martin Scorsese, numa ação que também é típica da Academia: reparar erros do passado e premiar grandes diretores por filmes posteriores menores.
Scorsese não ganhou o Oscar especificamente por "Os Infiltrados" (um dos mais fracos da filmografia dele) e sim por toda uma carreira e por nunca ter levado o prêmio pelo extraordinário "Touro Indomável" (Raging Bull), que perdeu em 1981 para "Gente como a Gente" (Ordinary People), de Robert Redford. Hoje em dia poucos lembram deste drama. Já o magistral filme de Scorsese sobre boxe é tido como um clássico e um dos melhores filmes já feitos sobre o tema. Scorsese também foi injustiçado outras vezes. Em 1990 o soberbo "Os Bons Companheiros" (Good Fellas), hoje um clássico sobre gângters, perdeu para o correto "Dança com Lobos" (Dances with Wolves). Em 1977, "Taxi Driver", também de Scorsese, perdeu para "Rocky, um Lutador", num ano que o extraordinário "Todos os Homens do Presidente" (All the President's Men), de Alan J. Pakula, também concorria. Em 1996, "Cassino" (Casino) era o melhor filme do ano, mas não chegou nem a ser indicado a Melhor Filme. Os membros da Academia preferiram os risíveis "Babe - o Porquinho" e "Coração Valente" (Braveheart), de Mel Gibson, que acabou vencendo. Onde ficaram as carreiras promissoras de Gibson e Kevin Costner? A Academia deve ter vergonha de tê-los premiado.
Em 1942 "Cidadão Kane" (Citizen Kane), hoje um fos grandes filmes de todos os tempos, de Orson Welles, perdeu para "Com Era Verde o Meu Vale" (How Green Was My Valley).
 Em 1952 "Sinfonia de Paris" (An American in Paris), de Vincent Minelli venceu, mas os indicados eram os clássicos superiores "Um Bonde Chamado Desejo" (A Streetcar Named Desire) e "Um Lugar ao Sol" (A Place in the Sun).
Em 1953 o faroeste clássico "Matar ou Morrer" (High Noon) perdeu para "O Maior Espetáculo da Terra" (The Greatest Show on Earth).
Em 1957 o vencedor foi "A Volta ao Mundo em 80 Dias" (Around the World in 80 Days), enquanto os indicados eram os antológicos "Assim Caminha a Humanidade" (Giant), "Os 10 Mandamentos" (The Ten Commandments) e "O Rei e Eu" (The King and I).
Em 1972 o fabuloso "Laranja Mecânica" (Clockwork Orange), de Stanley Kubrick (que aliás morreu sem ter recebido um Oscar), perdeu para "Operação França" (French Connection). Qual dos dois filmes é lembrado como um clássico absoluto hoje?
Em 1980 o retumbante "Apocalipse Now" (Apocalypse Now), de Francis Ford Coppola, perdeu para "Kramer versus Kramer". Qual dos dois é tido atualmente como um grande filme?
Em 1990 "Nascido em 4 de Julho" (Born of the 4th of July) e "Sociedade dos Poetas Mortos" (Dead Poets Society) eram os dois grandes filmes do ano, mas quem ganhou o Oscar foi o bonito e apagado, com o passar dos anos, "Conduzindo Miss Daisy" (Driving Miss Daisy).
Em 1999 "O Resgate do Soldado Ryan" (Saving Private Ryan), de Steven Spielberg, perdeu inacreditavelmente para "Shakespeare Apaixonado" (Shakespeare in Love), num dos momentos mais injustiçados e constrangedores da história da Academia.
Em 2001 "Traffic", de Steven Soderbergh, foi o filme mais elogiado pelos críticos mas o grande vencedor do Oscar foi "Gladiador" (Gladiator), de Ridley Scott, que acabou perdendo a estatueta de diretor para Soderbergh. Scott não recebeu apenas por "Gladiador", um bom filme, e sim, como recompensa por não ter sido sequer indicado em 1983 pelo clássico "Blade Runner - Caçador de Andróides" (Blade Runner) e também pelos aclamados "Alien, o Oitavo Passageiro" (Alien)  e "Thelma & Louise".
Em 2003, os dois grandes filmes do ano eram "As Horas" (The Hours), de Stephen Daldry e "O Pianista" (The Pianist), de Roman Polanski, mas quem levou o Oscar foi o musical "Chicago", de Rob Marshall, hoje, quase 10 anos depois, um filme regular apenas. Marshall nunca mais fez um filme que prestasse depois. 
Em 2006 o comovente e original "O Segredo de Brokeback Mountain" (Brokeback Mountain), de Ang Lee, perdeu para o mediano "Crash", em outro momento lembrado como um dos maiores erros da Academia.
Este ano quem levou foi o bonito, esquecível e mediano "O Discurso do Rei" (The King's Speech),  fato que com certeza será citado por especialistas em anos posteriores. O diretor, Tom Hooper, que tem uma carreira na TV e não no cinema, tirou o Oscar das mãos dos diretores com carreiras consagradas dos dois grandes filmes do ano: "Cisne Negro" (Black Swan) e "A Rede Social" (The Social Network).
Eu não tenho dúvida de que nos próximos anos Darren Aronofsky (de "Cisne Negro") e David Fincher (de "A Rede Social") serão premiados por filmes possivelmente "menores", como reparação à injustiça deste ano.
A categoria Filme Estrangeiro, então, renderá um post futuro. Em mais de 80% das vezes a Academia premia o filme errado. Vai entender.









3 comentários:

  1. E em 1999, também, Fernanda Montenegro perdeu inacreditavelmente para Gwyneth Paltrow, por "Shakespeare Apaixonado" (Shakespeare in Love). Que Fernanda não ganhasse, por ser uma atriz latina em personagem de língua não inglesa, eu até entendo. Mas então, que o Oscar fosse para Cate Blanchett, maravilhosa na sua primeira brilhante interpretação de "Elizabeth".

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  2. Sim, vc tá certa, Sally. Mas como era um post sobre filmes injustiçados, não comentei sobre atuações. Mas vc tem toda razão.

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  3. "Cisne Negro"TINHA que ter vencido ! Exatamente como vc disse:" O discurso do Rei" é um filme bonito! Já o " Black Swan " INESQUECÍVEL!!!!

    Besooos

    Fabi.

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